Quincas Borba, a filosofia do Humanitismo em uma obra-prima da literatura brasileira

Quincas Borba, publicado inicialmente como folhetim entre 1886 e 1891, representa um dos pilares da magnífica produção literária de Machado de Assis. Este romance, que constitui a segunda parte da trilogia realista do autor (junto com Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro), traz uma narrativa envolvente que mistura ironia, crítica social e reflexões filosóficas profundas sobre a condição humana.

Quincas Borba narra a tragédia de um homem simples que, ao herdar uma fortuna, perde-se entre a ambição e a loucura em uma sociedade cruel.

A obra apresenta a filosofia fictícia do Humanitismo, criada pelo excêntrico filósofo Quincas Borba, e acompanha o destino de Rubião, um professor simples do interior que herda uma fortuna inesperada. Através desta trama aparentemente simples, Machado constrói um retrato impiedoso da sociedade brasileira do século XIX, expondo ambições, vaidades e a natureza corruptível do ser humano diante do poder e do dinheiro.

A trajetória de Rubião e a filosofia que permeia a obra

A narrativa de Quincas Borba nos transporta para o Brasil imperial, onde conhecemos Rubião, um humilde professor de Minas Gerais que cuida do filósofo Quincas Borba em seus últimos dias. Como recompensa por seus cuidados, Rubião herda toda a fortuna do excêntrico pensador, sob a condição de cuidar de seu cachorro, que carrega o mesmo nome do falecido dono. Esta herança repentina transforma completamente a vida do protagonista, que decide mudar-se para o Rio de Janeiro e embarcar em uma nova existência repleta de luxos e status social.

Na capital, Rubião conhece o casal Palha e Sofia, que rapidamente percebe a ingenuidade do novo rico e começa a manipulá-lo. Enquanto Cristiano Palha explora financeiramente Rubião através de negócios duvidosos, Sofia o seduz sutilmente sem nunca se entregar, mantendo-o em constante estado de esperança e submissão. Paralelamente, outros personagens orbitam ao redor da fortuna de Rubião, como o oportunista Major Siqueira e sua filha Tonica, além do escritor Camacho, que convence Rubião a financiar seu jornal político.

O declínio mental e financeiro do protagonista

À medida que a história progride, assistimos ao declínio mental de Rubião, que gradualmente desenvolve delírios de grandeza, chegando a acreditar ser o próprio Napoleão III. Sua condição psicológica se deteriora proporcionalmente à diminuição de sua fortuna, explorada impiedosamente por aqueles que o cercam. O protagonista, incapaz de compreender as complexidades sociais e as maquinações de seus supostos amigos, mergulha em um estado de loucura cada vez mais profundo.

A ironia cruel da narrativa se revela quando Rubião, após ter sido completamente despojado de sua fortuna e sanidade, retorna à sua cidade natal, Barbacena, onde morre na miséria, acompanhado apenas pelo cachorro Quincas Borba. O círculo se fecha quando o protagonista, em seus delírios finais, repete o mantra filosófico criado pelo original Quincas Borba: “Ao vencedor, as batatas” – síntese cruel do Humanitismo, que prega a sobrevivência do mais forte.

A crítica social machadiana através de personagens complexos

O verdadeiro triunfo de Machado de Assis nesta obra está na construção de personagens ricamente complexos que servem como veículos para sua aguda crítica social. Sofia, por exemplo, personifica a ascensão social por meios questionáveis, enquanto mantém uma fachada de respeitabilidade. Seu marido, Palha, representa o empresário sem escrúpulos disposto a qualquer coisa pelo enriquecimento, inclusive usar a própria esposa como isca social.

Através destes e outros personagens, Machado disseca impiedosamente a sociedade brasileira do Segundo Reinado, expondo hipocrisia, materialismo e o vazio das relações sociais baseadas exclusivamente em interesses. A narrativa, ao mesmo tempo que diverte com situações por vezes cômicas, provoca reflexões profundas sobre as motivações humanas e as estruturas sociais que privilegiam os mais adaptados – não necessariamente os mais virtuosos.

Avaliações da rede

“Uma obra que te faz repensar valores e motivações humanas. Machado consegue ser atual mesmo depois de tanto tempo.” – Carlos Drummond

“Quincas Borba me surpreendeu pela análise psicológica dos personagens. Uma leitura necessária para entender o Brasil.” – Marina Silveira

“Machado de Assis em sua melhor forma! Ironia cortante e personagens inesquecíveis que representam nossas próprias falhas.” – Roberto Campos

“Um retrato impiedoso da sociedade, com personagens tão reais que parecem saltar das páginas. Literatura brasileira em sua excelência.” – Antônio Cândido

“Quincas Borba é daqueles livros que releio anualmente e sempre descubro novas camadas. Uma obra-prima absoluta.” – Lucia Helena

Se você chegou até aqui…

É porque deseja muito ler este livro pois certamente compreende o valor inestimável de uma obra clássica da literatura brasileira que transcende gerações. Quincas Borba não é apenas um romance do século XIX, mas sim uma análise profunda e atemporal sobre ambição, poder e as consequências da ganância desmedida no caráter humano.

Este livro definitivamente deve fazer parte da sua biblioteca pessoal, principalmente porque representa um dos pilares fundamentais para compreender a evolução do pensamento literário brasileiro. Além disso, professores de literatura brasileira frequentemente recomendam esta obra como leitura essencial para entender o período realista e a genialidade de Machado de Assis em construir críticas sociais através de personagens complexos.

Lembrar que Quincas Borba continua relevante após mais de um século de sua publicação demonstra a genialidade de Machado em capturar essências universais do comportamento humano. Por isso, independentemente da sua idade ou preferência literária, este clássico proporcionará reflexões valiosas que enriquecerão sua percepção sobre a sociedade e as relações humanas.

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