Um defeito de cor, escrito por Ana Maria Gonçalves, é uma poderosa narrativa histórica que atravessa o Atlântico e oitenta anos da vida de uma personagem inesquecível. Esta monumental obra de quase mil páginas nos transporta ao Brasil do século XIX através dos olhos de Kehinde, uma mulher africana arrancada de sua terra natal e escravizada no Brasil.

Um defeito de cor narra a saga épica de Kehinde, mulher africana escravizada no Brasil que busca seu filho perdido durante 80 anos de história brasileira

A autora construiu uma narrativa arrebatadora que mistura ficção e história para retratar a diáspora africana, a escravidão brasileira e a busca incansável de uma mãe pelo filho perdido. Inclusive, a cada página você sentirá o peso das vivências da protagonista, enquanto ela narra em primeira pessoa sua jornada desde a infância na África até a velhice, em uma carta endereçada ao filho que nunca mais viu.

A saga histórica que atravessa o Atlântico

O romance tem início na África, quando a jovem Kehinde, aos oito anos, testemunha o brutal assassinato de sua mãe e irmão. Após este trauma devastador, ela e sua avó são capturadas e enviadas ao Brasil em um tumbeiro – nome dado aos navios que transportavam pessoas escravizadas. Durante a terrível travessia, a protagonista perde também sua avó, chegando sozinha à província da Bahia, onde é vendida como escrava.

Ao longo da narrativa, acompanhamos a extraordinária jornada de Kehinde por diversas cidades brasileiras, como Salvador, Cachoeira, São Luís do Maranhão e Rio de Janeiro. A personagem vivencia momentos cruciais da história brasileira, como revoltas escravas, principalmente a Revolta dos Malês, da qual participa ativamente. Além disso, ela mantém contato com figuras históricas reais, como Luís Gama, que alguns estudiosos apontam como possivelmente sendo seu filho perdido.

O enredo nos envolve completamente em cada fase da vida desta mulher excepcional. Mesmo sob o jugo da escravidão, Kehinde aprende a ler e escrever, conquista sua alforria e se torna uma próspera comerciante. No entanto, após perder a guarda de seu filho, vendido pelo próprio pai, ela inicia uma busca incansável que a levará de volta à África e, já idosa, novamente ao Brasil.

A riqueza cultural e histórica do Brasil oitocentista

Ana Maria Gonçalves realiza um trabalho impecável de pesquisa histórica, recriando com detalhes impressionantes o Brasil do século XIX. Através da protagonista, somos apresentados às tradições religiosas africanas, como o culto aos orixás, que sobreviveram à travessia do Atlântico e se mesclaram ao catolicismo, formando o que hoje conhecemos como candomblé.

A narrativa também ilustra as complexas relações raciais e de poder na sociedade brasileira escravocrata. Kehinde navega por diferentes camadas sociais e testemunha as contradições de um país que mantinha pessoas escravizadas enquanto proclamava ideais de liberdade e independência. Sem dúvida, esta obra nos faz refletir sobre como este passado moldou profundamente a identidade brasileira contemporânea.

A jornada de uma mulher extraordinária

O maior triunfo de Um defeito de cor talvez seja a construção de sua protagonista. Kehinde é uma personagem complexa, resiliente e multifacetada. Ela enfrenta inúmeras adversidades, mas nunca perde sua dignidade ou determinação. Através de suas experiências, observamos como as mulheres negras, frequentemente apagadas dos registros históricos, foram fundamentais na construção da sociedade brasileira.

Ana Maria Gonçalves cria uma personagem que desafia estereótipos e humaniza a experiência da escravidão, sem nunca romantizá-la. Kehinde não é apenas uma vítima, mas uma agente de sua própria história que luta constantemente por autonomia em um mundo que tenta negá-la. Certamente, sua voz ecoa muito além das páginas do livro.

A narrativa em primeira pessoa nos permite acompanhar a evolução psicológica da protagonista, que mantém vivas suas raízes africanas enquanto se adapta e resiste às estruturas opressivas da sociedade brasileira. Ademais, sua espiritualidade, seus amores, suas perdas e conquistas são narrados com uma profundidade emocional que torna impossível não se conectar com sua história.

O legado literário de um clássico contemporâneo

Publicado em 2006, Um defeito de cor rapidamente se estabeleceu como um marco na literatura brasileira contemporânea. A obra rompe com o silêncio histórico sobre a experiência das pessoas escravizadas e, principalmente, das mulheres negras no Brasil colonial e imperial. Além disso, o romance ganhou o Prêmio Casa de las Américas e já é considerado um clássico moderno.

A linguagem de Ana Maria Gonçalves é outro ponto alto do livro. Fluida e poética, ela consegue recriar a oralidade da narrativa de Kehinde sem perder a profundidade literária. Os diálogos são autênticos e as descrições dos cenários transportam o leitor para as ruas de Salvador, os engenhos do Recôncavo Baiano ou as comunidades de retornados em Lagos.

Por fim, Um defeito de cor não é apenas um romance histórico, mas uma obra que desafia o leitor a repensar a história brasileira a partir de perspectivas tradicionalmente silenciadas. Este livro monumental certamente continuará inspirando novas gerações de leitores e escritores brasileiros por muitos anos.

Avaliações da rede

“Uma obra monumental que todo brasileiro deveria ler para entender nossas raízes e identidade. Livro que mudou minha perspectiva.” – Maria Santos

“Simplesmente o melhor livro que já li na vida. A história de Kehinde me tocou profundamente e me fez chorar várias vezes.” – Carlos Oliveira

“Uma narrativa poderosa e necessária. Ana Maria criou uma protagonista inesquecível que carrego comigo desde a leitura.” – Joana Lima

“Obra fundamental para entender o Brasil. A pesquisa histórica impressiona tanto quanto a qualidade literária.” – Pedro Almeida

“Livro que deveria ser leitura obrigatória nas escolas. Transformador, doloroso e belíssimo ao mesmo tempo.” – Luiza Fernandes

Se você chegou até aqui…

É porque deseja muito ler este livro pois percebeu o quanto ele pode transformar sua compreensão sobre a história brasileira e a diáspora africana. Através das quase 1000 páginas desta obra magistral, você viajará por oitenta anos de história, dois continentes e várias cidades brasileiras na companhia de uma das personagens mais memoráveis da literatura nacional.

Este livro certamente merece um lugar especial em sua biblioteca pessoal, pois é daquelas obras que você revisitará várias vezes, sempre descobrindo novas camadas de significado. Professores de história e literatura brasileira frequentemente o recomendam como leitura essencial para compreender as complexidades das relações raciais no Brasil e o processo de formação da identidade nacional.

Portanto, prepare-se para uma jornada literária inesquecível que mudará para sempre sua visão sobre o Brasil. Um defeito de cor não é apenas um romance histórico impressionante, mas um testemunho poderoso da resistência, dignidade e força das mulheres negras que ajudaram a construir este país, mesmo quando a história oficial tentou apagá-las.

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