A poesia de Conceição Evaristo e suas vozes silenciadas
“Canção para ninar menino grande” é uma obra tocante e reveladora da escritora, que nos apresenta um universo literário onde infância e maturidade se encontram em um diálogo constante. O livro reúne poemas que exploram as complexidades da existência humana, especialmente da população negra, através de uma linguagem sensível e profunda.

Ao longo da obra, Evaristo utiliza a metáfora do “ninar” para abordar questões fundamentais como identidade, memória, trauma e resistência. Este livro certamente é uma adição essencial para quem busca compreender a literatura afro-brasileira contemporânea e apreciar a sutileza poética de uma das autoras mais importantes do nosso tempo.
Um mergulho nas histórias que precisam ser contadas
Conceição Evaristo desenvolve em “Canção para ninar menino grande” uma escrita que entrelaça delicadeza e força. Os poemas frequentemente evocam a imagem da infância interrompida ou negada, onde o “menino grande” representa aqueles que, mesmo adultos, carregam as marcas e sonhos de uma infância que nem sempre pôde ser vivida plenamente.
A obra é permeada por uma linguagem rítmica que realmente parece embalar o leitor, criando uma atmosfera quase musical que complementa perfeitamente o título. Esse ritmo, contudo, não suaviza as duras realidades abordadas – pelo contrário, torna-as ainda mais impactantes, pois contrasta a forma suave da canção de ninar com o conteúdo muitas vezes doloroso das experiências narradas.
Os personagens que habitam estes poemas são majoritariamente pessoas negras, cujas histórias raramente encontram espaço na literatura tradicional. Evaristo, assim, dá voz a experiências silenciadas, construindo um mosaico de memórias, afetos e resistências que atravessam gerações.
A poética da resistência
A segunda parte da obra revela uma característica marcante da escrita de Evaristo: sua capacidade de transformar dor em beleza sem romantizar o sofrimento. Os poemas frequentemente abordam as consequências do racismo estrutural e da desigualdade social, mas sempre apontando para possibilidades de resistência e reconstrução.
A autora utiliza imagens do cotidiano para elaborar metáforas poderosas sobre pertencimento e deslocamento. O ninar, que tradicionalmente representa proteção e segurança, ganha novos significados quando direcionado não a crianças, mas a “meninos grandes” – adultos que carregam feridas infantis não curadas ou sonhos não realizados.
Particularmente notável é como Evaristo trabalha com a linguagem, subvertendo expectativas e criando novos significados. Embora sua escrita seja acessível, ela é também profundamente lírica e carregada de camadas de interpretação, o que torna a experiência de leitura simultaneamente prazerosa e desafiadora.
Se você chegou até aqui…
É porque deseja muito ler este livro pois certamente sentiu a força e a delicadeza da escrita de Conceição Evaristo. A obra possui um valor inestimável tanto do ponto de vista literário quanto educacional, sendo frequentemente recomendada por professores de literatura brasileira e estudos culturais para compreender as questões raciais e sociais do Brasil contemporâneo.
Ter “Canção para ninar menino grande” em sua biblioteca pessoal significa mais do que possuir uma excelente obra literária – representa também um compromisso com a ampliação do olhar sobre a produção literária brasileira e com a valorização de vozes historicamente marginalizadas no campo das letras.
Este livro não é apenas uma leitura; é uma experiência transformadora que certamente enriquecerá sua percepção sobre poesia, identidade e resistência cultural. Não perca a oportunidade de conhecer esta obra singular de uma das mais importantes escritoras brasileiras da atualidade.
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Outras obras de Conceição Evaristo
L’Histoire de Poncia – Versão francesa de “Ponciá Vicêncio”, que ampliou o reconhecimento internacional da autora.
Ponciá Vicêncio – Primeiro romance da autora que narra a trajetória de uma mulher negra em busca de sua identidade e história familiar.
Becos da Memória – Romance que apresenta a vida em uma favela prestes a ser demolida, entretecendo histórias de diversos personagens.
Insubmissas lágrimas de mulheres – Coletânea de contos que apresenta histórias de mulheres negras em diferentes contextos de resistência.
Olhos d’água – Contos que exploram a vivência de personagens negros, principalmente mulheres, em suas lutas cotidianas.
Histórias de leves enganos e parecenças – Narrativas que misturam realidade e elementos fantásticos, dialogando com tradições orais africanas.